segunda-feira, 29 de agosto de 2011

FORÇA RICARDO GOMES

O futebol sempre tem o lado da paixão que supera o da razão. É assim que o torcedor de arquibancada analisa seu time, quando vence é o melhor, quando perde é o pior. Não tem nada de racional, nem tampouco isenção nos comentários. Frequento estádio há quase duas décadas e sempre foi assim. Logo, os simbolismos gerados na arquibancada nem sempre tem um contraponto no mundo real. Quando eu grito que vou dar porrada em alguém, que minha torcida "é mal pega um, pega geral", não quer dizer que eu vá fazer parte disso. Alguns criminosos travestidos de torcedor o fazem, não posso negar isso, mas o torcedor médio grita muitas coisas na qual ele realmente não acredita.

Digo isso por conta dos gritos da torcida do Flamengo de "Uh!Vai morrer" enquanto Ricardo Gomes era atendido pelos médicos. Alguns bons comentaristas esportivos gritaram e acharam um absurdo, um disparate, ouve até quem chamasse essa parte da torcida do Flamengo de imbecil. Não concordo com nenhum deles. É fácil opinar no ar condicionado dos estúdios de TV ou em frente ao PC em casa. Sem desmerecer o trabalho de ninguém.

Quero deixar claro que torço muito pela recuperação do Ricardo Gomes, um cara que finalmente teve seu trabalho reconhecido em ambito nacional com o título da Copa do Brasil, depois de trabalhos frustrados e frustrantes, inclusive pela Seleção Olímpica. Um técnico que a maioria dos jornalistas considera um cara idôneo e entendedor de futebol.

Posso concordar que depois dos fatos esclarecidos, possa ter causado um certo desconforto em quem gritou isso no estádio. Mas ali no calor do jogo? A maioria do público não tem acesso a gama de informações de quem está em casa. Um ou outro ouvem o jogo pelo rádio ou pelo celular e repassam a informação truncada. O grito ali tem muito mais a ver com a tentativa de desestabilizar o adversário do que o contrário.

Talvez por Ricardo Gomes ser tão querido pela imprensa esportiva, a grita contra os torcedores do Flamengo tenha sido grande. Talvez por ser o Flamengo e isso repercurtir bem mais. Mas é mais ou menos grave o que as torcidas rivais do Flamengo fazem, quando cantam em verso e prosa o "Coitadinha da Raça" em que digamos celebramos o "caiu na geral" da torcida rubro-negra?

Nesse caso específico, ouve inclusive a morte de um torcedor. E não vejo comentaristas ou narradores pregando contra cada vez que a Fúria Jovem, a Força ou a Young entoam a musiqueta. Talvez por fazer bastante tempo. Talvez porque não signifique nada além de uma provocação ao rival. Não acho que ninguém desrespeita a dor da família e dos amigos do pobre rapaz quando canta isso.

Aliás também não sou contra ela e a canto quando vou ao Maraca ou ao Engenhão, assim como grito para o árbitro "uh vai morrer" quando acho que ele está prejudicando o meu time. Não acho que isso me torne um sádico ou um potencial assassino. Isso é apenas a linguagem da arquibancada.

E não duvido nada que na rodada seguinte, os mesmos torcedores que gritaram pela morte do Ricardo Gomes, estendam faixas de "Força Ricardo Gomes". Pode parecer incoerente, mas isso é futebol. E tentar pasteurizá-lo não vai levar a lugar nenhum.

P.S: Além do mais não é só no futebol que se faz "piada" sobre tragédia. Há quem goste e há quem não goste. Como tudo nessa vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário